Sara Baquissy
16 anos
Natural de Coimbra
Sara Baquissy frequenta o 11º ano na área de ciências na Escola Dona Maria, em Coimbra, e refere que o seu interesse pelo ativismo ambiental surgiu ao ler e ver algum conteúdo sobre o tema. Em 2020, após as Greves Climáticas, juntou-se definitivamente ao movimento Fridays for Future.
Sara exerce o seu ativismo de distintas formas, desde manifestações a nível nacional até a ações formativas. De momento, colabora com o coletivo Erva Daninha, de modo a trazer as artes para esta temática. Sara refere que a aproximação dos jovens à justiça ambiental tem de passar pela intervenção das escolas, sendo necessário e central politizar a questão. Por outro lado, considera que também é necessário os movimentos adaptarem-se aos jovens, flexibilizando a sua participação e tendo em conta o contexto em que estes se inserem. No entanto, considera fulcral “não deixar o ativismo ser também tudo na vida”. Os maiores desafios que refere ter sentido são a exaustão mental da luta ambiental – dificuldade em conciliar horários e poucas pessoas disponíveis – e os discursos do capitalismo verde.
Em que momento é que decidiste ser ativista ambiental?
Honestamente, não me lembro muito bem. Antes de começar a ir ao protesto, interessava-me bastante pela matéria, comecei a ler um bocado e a ver alguns documentários e, depois, decidi, pela primeira vez, ir a uma manifestação pelo clima. Foi onde começaram as Greves Climáticas do movimento Fridays for Future aqui em Portugal e, em 2020, decidi juntar-me definitivamente.
De que forma exerces o teu ativismo? Estás em alguma organização que trate estes temas?
Para além das manifestações a nível nacional, fazem-se palestras, vigílias, colaboramos com outras organizações em diversas atividades, quer sejam ações diretas quer formativas. E tentamos envolver bastante as artes, agora, principalmente em Lisboa. Está-se a colaborar com diferentes coletivos, nomeadamente a Erva Daninha, para incluir o mais possível as artes nas nossas ações.
E tens participado nessas atividades. O que mais gostas de fazer?
Gosto um bocado de tudo, porque, quando sabemos que as coisas que fazemos têm um objetivo concreto, parece que as coisas só fluem. Chegar é mais difícil, mas, quando se está lá, é “de boa”.
O que achas que podemos fazer para atrair mais jovens para o movimento da justiça ambiental? Tens alguma mensagem que gostasses de passar a outros jovens que se queiram juntar à causa ambiental?
Em primeiro lugar, acho que isto devia ser bem mais falado nas escolas, o que não é. E a forma como é falado não é a correta, apoiando-se imenso em narrativas do capitalismo verde e não politizando esta questão. E é um bocado difícil falarmos do ambiente, que é uma questão tão política, sem a politizar. Então, acho que esse seria um primeiro tópico. Segundo passo, acho que os movimentos também têm que se adaptar: tendo pessoas mais jovens, as pessoas do movimento têm que fazer algum esforço para lidar com os jovens. Não têm a mesma experiência, também não têm a mesma liberdade para ficar, por exemplo, até à meia noite em reuniões, às vezes, ou coisas assim. É preciso criar-se esses espaços, dentro dos coletivos.
Qualquer pessoa que queira fazer alguma coisa pode fazer alguma coisa. E o trabalho de quem já fez e tem essa experiência também é capacitar as pessoas que ainda não a têm. Então, embora seja assustador começar uma coisa nova na qual não temos experiência, é bom ter em mente que não estamos sozinhos, que temos sempre pessoas à nossa volta que querem ajudar-nos e que querem tornar-nos capazes de fazer a mesma coisa para outras pessoas novas tentarem. O conselho que eu daria é: muita calma, não deixar o ativismo ser também tudo na vida, porque, às vezes, aquilo que acontece, quando só nos focamos no ativismo, é que rapidamente entramos em burnout e, depois, acabamos por não conseguir fazer nada. Se fores fazer isto, lembra-te de tirares um tempo para ti e para as tuas pessoas favoritas.
Falaste de um desafio do ativismo. Que outros desafios é que atravessam este percurso do ativismo ambiental?
Dentro dos próprios grupos, é sempre complicado, porque todas as pessoas que trabalham nisto são voluntárias, com diferentes disponibilidades. E, muitas vezes, aquilo que acontece é exatamente aquilo de que eu estava a falar antes: como nem toda a gente tem disponibilidade, o trabalho às vezes concentra-se em poucas pessoas e elas rapidamente entram em burnout e depois não se consegue avançar. Desde 2019, diminuímos muito, em números. Com o movimento parado, muita gente sai e as coisas tornam-se mais fracas, porque, saindo muita gente, também não conseguimos fazer as coisas que conseguíamos fazer antes. Isto a nível interno, do movimento.
Mas acho que agora é que o movimento climático vai voltar com força. A nível mais geral, o desafio é mesmo a narrativa do capitalismo verde e ultrapassar esta crise mantendo o nível de vida que nós temos agora. E muito mais ainda a ideia de que as empresas multimilionárias estão a passar de que realmente estão a tentar fazer algo para mitigar esta crise, quando na prática não é isso que nós vemos. Apresentam muitas ideias supostamente verdes que não o são. Agora, temos ouvido, muitas vezes, que as empresas petrolíferas vão passar para gás, mas nós sabemos que, na prática, gás é metano, que é muito mais poluente do que carbono, por exemplo. Mesmo quando elas tentam fazer coisas que são supostamente renováveis, como encerrar refinarias ou certas estruturas poluentes, fazem-no sem ter em conta os trabalhadores e as pessoas que vão ser afetadas por esse encerramento, que é algo que também devemos ter em conta.
Quais são os teus planos para o futuro? Onde é que gostavas de levar o ativismo e a luta climática?
As Ocupas de Coimbra é o movimento em que, no momento, estou mais ativa. O nosso plano é ocupar os nossos estabelecimentos de ensino para exigir o fim aos fósseis até 2030. Embora os meus próximos tempos sejam mais focados nisso, estou bastante feliz com este projeto, acho que vamos conseguir bastantes pessoas, principalmente aqui em Coimbra. É que o movimento estudantil é bastante forte. Uma vantagem, que em Lisboa não tem, são as repúblicas, que vão ajudar imenso na construção destas ocupações.
Às vezes, deixa-me um bocado em baixo ver como os movimentos têm perdido poder, aqui em Coimbra também. Mas penso que, agora, o movimento vai realmente crescer e que em Coimbra vamos conseguir algumas mudanças concretas.
E para o futuro mais longínquo tens alguma ideia do que queres fazer?
Ainda não sei muito bem, mas quero conseguir conciliar o meu trabalho com o ativismo. Honestamente, acho que sou uma rapariga das ciências. Sabendo que também existe a Scientist Rebellion e o papel que diversos cientistas têm tido na luta contra as alterações climáticas e em diferentes movimentos sociais, também acho que consigo ver-me mais numa área de ciências (nada a ver com medicina e química), em física e engenharias. Gostava de fazer um ano de voluntariado, antes de completar 18 anos e ir para a Universidade e de continuar na luta.
Acho que, agora, o futuro do movimento, no geral, vai ser passar para ações mais disruptivas, porque aquilo que nós temos visto é que, por mais que os nossos esforços neste tipo de manifestações, e durante dezenas de anos, tenham sido de pedir aos governos e instituições internacionais alguma mudança, isso não tem realmente acontecido. As emissões continuam a aumentar e continuam sem ouvir as nossas manifestações. Então, o futuro do movimento, em geral, vai ser fazer ações mais disruptivas que realmente não possam ser ignoradas, sempre pacíficas, claro.
Esta entrevista faz parte de um conjunto de entrevistas a jovens ativistas pelo Clima, que disponibilizaremos aqui no Escolas pelo Planeta!