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Andreia Galvão
23 anos
Natural de Lisboa

Andreia Galvão frequenta o Mestrado em Teatro na Escola Superior de Teatro e Cinema e refere que a sua aproximação ao ativismo ambiental foi marcada por uma certa aleatoriedade. Foi no secundário, ao participar em projetos de cidadania, que ficou a conhecer o tema e acabou por se juntar: “Foi, mais, quase um acaso”. Posteriormente associou-se à Greve Climática em diferentes pontos do país, bem como a outros movimentos. De momento, para além de participar em vários debates e conversas, trabalha também com a companhia de teatro Hotel Europa, dentro da área da urgência climática. Andreia considera que através da cultura consegue exercer o seu ativismo e transformar, mais profundamente, as perceções das pessoas sobre este tema.

 

Em que momento é que decidiste ser ativista ambiental?

Acho que foi um bocadinho por aleatoriedade. Eu participava muito em projetos de cidadania, quando estava no secundário. Estava a participar no Euroscolas e conheci uma rapariga que, passados uns meses, me falou da Greta Thunberg (que eu não sabia quem era e acho que o mundo, em geral, não sabia) e de querer fazer uma manifestação aqui. Então, foi um bocadinho esse o contexto que me aproximou ao ativismo climático. Não sabia bem o que é que era, nem quais eram as maiores preocupações. Foi, mais, quase um acaso.

Depois, juntei-me à Greve Climática, participei na organização de manifestações, tanto em Lisboa como nas Caldas da Rainha, e estive em ações de outros movimentos climáticos. Agora, também participo em vários debates/conversas e momentos com outras organizações. E a parte artística da transformação climática é a que me interessa mais, ultimamente. Agora, estou a trabalhar com o Hotel Europa, que é uma companhia [de teatro], para a sua próxima criação, que é sobre urgência climática. É o sítio onde, para mim, é mais interessante fazer a mudança.

Ou seja, fazer o uso da cultura como forma de exercer o ativismo?

Não só fazer uso, de uma forma utilitária, mas no sentido de transformar mais profundamente as pessoas e o nosso pensamento sobre nós próprios. Encenar e expor isso, fazer vermo-nos a nós próprios. Acho que a cultura tem um papel muito importante a fazer isso.

Quais são os maiores desafios que atravessaste, neste percurso? 

Acho que há as próprias dinâmicas… Há sempre uma gestão da política e isso, claro, também é um desafio. Diria que isto não é uma dificuldade minha, mas uma dificuldade que eu vejo no movimento, até no Norte Global, em geral: a pouca representatividade nos grupos. Pensar na ecologia de uma forma descolonial é uma coisa que me conseguiu interessar muito, até porque acho que o ativismo ainda tem uma ideia um bocado do norte-sul global, como se houvesse pessoas que não se pudessem integrar aqui. E acho que isso é uma dificuldade, porque se torna um movimento da própria cidade, muito fechado sobre algumas pessoas que são, à partida, predispostas para aquele discurso e não para as pessoas que poderia ser. Não olhar para as pessoas como potenciais ativistas (muitas pessoas não são olhadas desta forma), para mim, é um problema que temos de resolver.

O que achas que podemos fazer para atrair mais jovens para o movimento da justiça ambiental?

Primeiro, acho que não são só jovens, acho que isso é uma coisa que também temos que desconstruir. A ideia de que o ativismo climático é uma coisa dos jovens… não é. E deve ser mesmo partilhada pela sociedade em geral. Até porque isso é que cria um diálogo interessante. Porque as pessoas, como são muito jovens, têm muita vontade de mudar o mundo e estão a propor coisas que, depois, não fazem sentido (e podem não fazer)… Acho que essa falta de comunicação também cria fragilidades que não tinham de existir.

Pensar em descentralizar como uma prática real, que não é ir a um sítio, mas é tentar criar condições para que nesses sítios possam surgir coisas. Por exemplo, eu estive na organização da manifestação Vida Justa e nós temos tentado inserir a questão do clima sem colocar um ativista profissional a ir falar com as pessoas e explicar, mas tentando trazer as preocupações a essa questão. E tentar ir a outros sítios, de que geralmente as pessoas se esquecem. Acho que tanto nos bairros periféricos de Lisboa como no interior do país isso não é feito. Dizer o interior é demasiado vasto… mas estas conversas não chegam a muitos sítios.

E tens alguma mensagem que gostasses de passar a quem se queira juntar à causa ambiental?

Sim, acho que é necessário! É uma luta imprescindível e acho que estarmos atentos a ela é estarmos atentos ao mundo, na verdade. E é o que está a mudar e é o que nós temos que transformar na nossa própria relação, na nossa própria perspetiva sobre nós próprios. Como é que nós nos relacionamos com o planeta do qual nós também fazemos parte e não somos uma parte distinta. Acho que isso é importante e acho que é mais do que uma luta, é quase que (para mim, começa a ser mesmo) uma linha existencial que separa o que nós temos de fazer, que tem que motivar a nossa existência nas próximas décadas.

Acho que as ações individuais… já não estamos aí. É preciso reiterar que ações individuais não vão transformar o planeta. São importantes, eticamente, mas não… O impacto é muito residual, não faz grande sentido esgotar recursos em ações individuais, que depois, na verdade, mantém toda a lógica e desresponsabilizam quem é responsável.

E, também, não diria juntarem-se aos movimentos, necessariamente, mas acho que diria: tentar dar ferramentas às pessoas, para que elas próprias, nos sítios onde estão, não só fisicamente, geograficamente, mas na vida… acho que, se temos um artista que quer fazer ação climática, pode fazer, da sua forma; ou um estudante, numa secundária, pode criar um coletivo na sua escola… tentar que haja mais atores na transformação social.

Quais são os teus planos para o futuro? Onde é que gostavas de levar o ativismo e a luta climática?

Não sei, acho que consigo dar esta resposta mais genericamente: as coisas que têm de ser feitas, como o abandono dos combustíveis fósseis, a criação de resoluções reais e que respondam à desigualdade social que a crise climática potencia. Acho que há essas respostas, que são maiores! Pessoalmente, cada vez mais, neste campo artístico, tentar criar trabalhos e envolver as pessoas nesta reflexão sobre a necessidade de repensar tudo. Acho que, para mim, seria um bocado isso: ter a crise climática como um paradigma existencial para as coisas que eu quero fazer, que não têm que ser sobre a crise climática, mas que vai estar lá. 

O movimento, depois, é plural. Há muitas formas mais institucionais, menos institucionais, mais anticapitalistas, menos anticapitalistas… Acho que o sistema económico não nos serve, é onde começo esta discussão. E acho que é mais fácil imaginar o fim do mundo com o fim do capitalismo e acho que isso também é um bocado preocupante.

 

Esta entrevista faz parte de um conjunto de entrevistas a jovens ativistas pelo Clima, que disponibilizaremos aqui no Escolas pelo Planeta!

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