Por entre o ritmo das alterações climáticas, quantidades recorde de emissões de gases com efeito de estufa, degelo dos glaciares e todas aquelas notícias de que não gostamos nada de ver na televisão, muitas vezes achamos que não há nada que possamos fazer para diminuir o nosso impacte sobre o ambiente.
Porém, engana-se quem assim pensa!
Como consumidores, e a título individual, podemos colaborar para uma sociedade mais sustentável, e a forma como nos alimentamos diz muito a respeito disto.
Segundo o Relatório do Estado da Insegurança Alimentar e Nutrição no Mundo (ONU, 2021), no ano de 2020, cerca de 720 a 811 milhões de pessoas passaram fome todos os dias. Isto equivale a mais de 70 vezes a população de Portugal. Já imaginaste todas as pessoas que conheces a passar fome todos os dias? É bem difícil de imaginar, mas acontece diariamente.
E não é “só isto”, o desperdício alimentar é responsável por cerca de 8% das emissões de gases com efeito de estufa no mundo e 1/3 dos alimentos produzidos são desperdiçados anualmente. Sabias que, se os alimentos desperdiçados fossem um país, seriam o 3º maior emissor de gases com efeito de estufa do mundo?! Sem falar que os sistemas alimentares consomem cerca de 30% da energia global disponível e, se reduzirmos o desperdício, evitamos a desflorestação desnecessária para terras agrícolas.
Bem, já deu para perceber que evitar o desperdício ajuda o planeta a regenerar-se e a continuar a fornecer alimentos para todos e, consequentemente, a amenizar as alterações climáticas. Por isso, não há nada mais deselegante do que desperdiçar comida, sim?
É provável que estejas a questionar: “Mas, como é que eu faço para diminuir o meu desperdício em casa?”. Pois aqui vão algumas sugestões:
- Observar durante uma semana toda a comida que deitaste fora e, a partir disso, ter a noção da quantidade de alimentos que efetivamente consomes para comprar somente o necessário.
- Evitar comprar determinado produto apenas porque está em promoção também é uma boa forma de não desperdiçar e de economizar, pois muitas vezes o barato sai caro.
- Congelar, caso percebas que não vais conseguir comer a tempo: comida boa é comida não desperdiçada. Mesmo as frutas e verduras podem ser congeladas e depois usadas em sumos, batidos, risotos, cremes e sopas…
- Ter uma secção “eat me first”: ter uma secção no frigorífico para as frutas e verduras que sabemos que devem ser comidas primeiro ajuda a não as esquecer. Deixar os produtos mais antigos à frente também é uma boa alternativa, assim conseguimos dar-lhes prioridade.
- Servir no prato apenas o que vamos comer: gerirmos a nossa fome é importante; servir mais do que conseguimos comer é porta de entrada para desperdiçar comida.
- Não ter vergonha de pedir para embalar o que sobrou no restaurante. Esta comida vai para o lixo se não fizeres isto. Lembra-te: quase sempre, é menos mau para o ambiente uma embalagem a mais do que a comida deitada fora.
- Cada alimento tem uma especificidade, não dá para guardar tudo no frigorífico e achar que todos vão ter a mesma durabilidade. Podemos proteger as frutas e verduras do frio excessivo com um pano, deixar as raízes (cenouras, por exemplo) submersas em água, não guardar folhas molhadas, enfim, convém observar regularmente o estado dos alimentos.
- Por fim, é importante saber diferenciar os rótulos das embalagens. Há diferenças entre as indicações “consumir de preferência antes de” e “consumir até”. A primeira indicação refere-se à data de durabilidade mínima de um produto, ou seja, o prazo mínimo em que o alimento estará bom para consumir. Neste caso, após a data indicada na embalagem, podemos sempre cheirar e observar se o alimento está dentro da normalidade que conhecemos antes de o deitar ao lixo – é válido para massas, arroz, conservas, farinha, açúcar, azeite, óleos, etc. Já a segunda indicação é a data limite para consumo, não sendo aconselhável consumi-los depois da data, porque não se consegue garantir a segurança alimentar – é válido para alimentos muito perecíveis, como carnes, peixes, entre outros. Neste caso, temos de ter sempre a maior atenção às datas para comprar apenas o necessário e conseguir consumir no prazo indicado e evitar o desperdício.
Bem, agora que já conhecemos algumas formas de não desperdiçar e o porquê de não o fazer, vamos juntos espalhar esta mensagem? Sê aquele amigo que não tem vergonha de pedir para embalar o restinho da refeição no restaurante, aquela filha que controla o frigorífico de casa ou a sobrinha que repreende o desperdício no almoço de domingo. Podemos fazer isto sempre com gentileza e dando o exemplo.
Grão a grão, vamos acabar com o desperdício alimentar!
Referências:
Direção Geral dos Alimentos e Veterinária, 2018. Esclarecimento Técnico nº 8 / DGAV / 2018. Interpretação das menções “data limite de consumo” e “data da durabilidade mínima” na rotulagem de géneros alimentícios. Disponível em: https://www.gpp.pt/images/MaisGPP/Iniciativas/CNCDA/8_Esclar_Rotulagem.pdf
ASAE, 2015. Newsletter: ASAEnews nº 92 – https://www.asae.gov.pt/?cn=739974087409AAAAAAAAAAAA&ur=1&newsletter=5126